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Arquitetos: Temperaturas Extremas Arquitectos
- Área: 1056 m²
- Ano: 2020
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Fotografias:David Frutos
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Fabricantes: Adobe, AutoDesk, Chaos Group, Grohe, Intra Teka, Naturtex, Polimer Tecnic, Robert McNeel & Associates, Trimble Navigation, iGuzzini
Descrição enviada pela equipe de projeto. A arquitetura não é um ofício que permite caminhar às cegas, é um testemunho de seu tempo e também de sua época, e precisa das ferramentas para se tornar um instrumento de transformação enquanto disciplina.
Mesmo assim, parte do material que lhe sustenta são as ferramentas de memória e contexto. Não é possível elaborar uma arquitetura razoável se não conservarmos nossa memória, se esquecermos o que outros construíram, sem seu ensino preciso e evocativo. E também não é possível ignorar o contexto, já que trata-se de um assunto sobre o qual é possível refletir. Um contexto que não é de forma alguma opressivo, mas pelo contrário, que oferece dados precisos para um trabalho sério. Este contexto não é exclusivamente físico, mas essencialmente cultural e social, e ele proporciona uma leitura do presente e projeta a arquitetura para o futuro. Nada é memorável sem estar profundamente enraizado em seu presente cultural, se não refletir cuidadosamente o panorama de seu tempo; se não ajudar a descrevê-lo e desenvolvê-lo. Este pequeno museu está obsessivamente relacionado a estes dois conceitos: memória e contexto.
O edifício no qual o Museu é projetado está localizado no subsolo do Centro de Saúde do Centro Histórico de Cartagena. Com o edifício da Cúria já escavado, o projeto do Centro de Saúde foi elaborado com a intenção de preservar os resquícios encontrados e também de proporcionar um conjunto de espaços que viabilizaria uma restituição volumétrica de grande parte do edifício. Neste sentido, o projeto que desenvolvemos refere-se às decisões, prévia e acertadamente, tomadas em 2009. Isto não é obra de poucos, mas tem um espírito coletivo, é o resultado de uma estratégia da cidade. Ela tem vocação para se tornar um espaço cultural que quer conectar o passado com o presente.
O principal objetivo do Museu é receber uma exposição organizada das magníficas peças encontradas ao longo dos anos nas escavações do Molinete. Este edifício também oferece a possibilidade física de conexão com todo o local, sendo o início de um percurso que será desenvolvido em todo o espaço arqueológico já escavado e consolidado, mas também por aquele que, permanecendo como reserva, contém expectativas de se juntar ao todo.
A intervenção acontece em três pavimentos, o primeiro dos quais se comunica com a rua externa e se transforma na recepção dos visitantes. Este nível contém os serviços gerais do Centro e desenha uma primeira sala na qual se encontra uma boa quantidade de peças singulares.
O salão principal utiliza materiais diretos em sua construção, chapas de aço nas paredes e resinas nos pisos, lajes de concreto e paredes de sisal que evocam uma tradição material e amortecem o ruído, tudo isso disposto de modo que as peças se tornem as protagonistas do espaço. Se neste recinto há peças de extrema singularidade, elas são as duas Musas e o Apollo, pinturas de uma excelente execução e conservação que, junto com o texto do Imperador Heliogábalo, têm um lugar de privilégio, que cria o caráter da exposição. Estas são dispostas dentro de um meio cilindro de aço revestido internamente com sisal que ocupa e estrutura o espaço central da área superior do Museu. Estas peças tornam-se pequenas capelas que destacam e evidenciam a qualidade das pinturas, ocupam o espaço e o estruturam. O restante das paredes contém caixas de vidro que servem de acompanhamento ao centro do espaço que é configurado pelas pinturas murais.
O segundo pavimento está próximo ao nível da escavação e se estrutura como uma varanda suspensa que não toca as ruínas e permite uma observação tranquila. Portanto, começa a descer gradualmente. Da perspectiva da arquitetura, trata-se de uma planta escalonada que tenta ser neutra, os materiais são conservados, as paredes em aço envernizado, matizados por superfícies de sisal, e os pisos de aço, mas sua configuração espacial permite uma relação direta entre a altura da entrada e o nível de escavação. seu caráter é centrado em ser mais uma rota do que uma sala, mesmo assim, sua dimensão permite controlar a espacialidade do conjunto, dando-lhe proporção e uma certa domesticidade. Trata-se de um lugar que visa pensar nos visitantes e não apenas nas peças em exposição.
O pavimento de escavação é o centro da intervenção. Um vazio de quase oito metros que permite a realização de trabalhos sobre a marca espacial da Cúria e assim obtém sua hipotética restituição. A decisão fundamental é agir a partir de uma condição mista, portanto, as estruturas antigas fundem-se com a arquitetura contemporânea, distinguindo-se, mas ao mesmo tempo transformando-se em um único organismo. Do forro destes oito metros pende uma restituição volumétrica feita de aço e barras de plástico translúcidas, um dossel que permite uma visão através de seus materiais e sugere um espaço que já desapareceu.
Este volume confere o caráter que a atuação no Molinete sempre teve, um respeito absoluto pela obra antiga e uma arquitetura contemporânea que a acompanha para torná-la melhor. O resultado é um híbrido de sucesso, uma arquitetura moderna justificada pelas ruínas antigas e, ao mesmo tempo, alguns poucos restos que crescem de forma corajosa e otimista com a arquitetura do presente. Uma nova memória e um contexto cultural contemporâneo.